16 de nov. de 2010

Desafio Literário - Novembro: Ensaio sobre a cegueira (José Saramago)


Tema: Escritores de Portugal

Mês: Novembro

Título: Ensaio sobre a cegueira

Autor(a): José Saramago

Editora: Companhia das Letras

Nº de páginas: 312

O livro é sobre...
Um motorista parado no sinal se descobre subitamente cego. É o primeiro caso de uma "treva branca" que logo se espalha incontrolavelmente. Resguardados em quarentena, os cegos se perceberão reduzidos à essência humana, numa verdadeira viagem às trevas.
O Ensaio Sobre a Cegueira é a fantasia de um autor que nos faz lembrar "a responsabilidade de ter olhos quando os outros os perderam". José Saramago nos dá, aqui, uma imagem aterradora e comovente de tempos sombrios, à beira de um novo milênio, impondo-se à companhia dos maiores visionários modernos, como Franz Kafka e Elias Canetti.Cada leitor viverá uma experiência imaginativa única. Num ponto onde se cruzam literatura e sabedoria, José Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos e ver. Recuperar a lucidez, resgatar o afeto: essas são as tarefas do escritor e de cada leitor, diante da pressão dos tempos e do que se perdeu: "uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos".

Eu escolhi este livro porque...
Não tem razão específica. Tinha que escolher algum livro. Saramago é um dos mais famosos escritores portugueses do mundo. Eu já tinha visto alguma coisa sobre a adaptação para o cinema.

A leitura foi...
Legal por causa das lições implícitas.
A cegueira começa num único homem, durante a sua rotina habitual. Quando está sentado no semáforo, este homem tem um ataque de cegueira, e é aí, com as pessoas que correm em seu socorro que uma cadeia sucessiva de cegueira se forma… Uma cegueira, branca, como um mar de leite e jamais conhecida, alastra-se rapidamente em forma de epidemia. O governo decide agir, e as pessoas infectadas são colocadas em uma quarentena com recursos limitados que irá desvendar aos poucos as características primitivas do ser humano. A força da epidemia não diminui com as atitudes tomadas pelo governo e depressa o mundo se torna cego, onde apenas uma mulher, misteriosa e secretamente manterá a sua visão, enfrentando todos os horrores que serão causados, presenciando visualmente vários sentimentos (poder, obediencia, ganância, carinho, desejo, vergonha) que se desenvolverão de várias formas.
Saramago mostra as reacções do ser humano às necessidades, à incapacidade, à impotência, ao desprezo e ao abandono e nos faz também refletir sobre a moral, costumes, ética e preconceito através dos olhos da personagem principal, a mulher do médico, que se depara ao longo da narrativa com situações inadmissíveis; mata para se preservar e aos demais, depara-se com a morte de maneiras bizarras, como cadáveres espalhados pelas ruas e incêndios; após a saída do hospício, ao entrar numa igreja, presencia um cenário em que todos os santos se encontram vendados: “se os céus não vêem, que ninguém veja”…
Segundo o próprio escritor: "Este é um livro francamente terrível com o qual eu quero que o leitor sofra tanto como eu sofri ao escrevê-lo. Nele se descreve uma longa tortura. É um livro brutal e violento e é simultaneamente uma das experiências mais dolorosas da minha vida. São 300 páginas de constante aflição. Através da escrita, tentei dizer que não somos bons e que é preciso que tenhamos coragem para reconhecer isso."

A nota que dou para o livro:
5 (Ótimo)

14 de nov. de 2010

Objetos de desejo - parte 4


Antes eu já havia indicado livros sobre Austen. Agora chegou a vez de Tolkien:


Tolkien's Middle-Earth Postcard Book (JRRTolkien)

The Tolkien Family Album (John & Priscilla Tolkien)


J.R.R. Tolkien - Artist And Illustrator (Wayne Hammond, Christina Scull, JRRTolkien)


There and Back Again-In the Footsteps of J.R.R. Tolkien (Tony Lyons)


Tolkien and the Silmarils-Imagination & Myth in The Silmarillon (Randel Helms)

Tolkien's Ring (David Day)


Tolkien-The Illustrated Encyclopedia (David Day)

A Gateway to Sindarin-A Grammar of an Elvish Language from J. R. R. Tolkien's Lord of the Rings (David Salo)

A Tolkien Treasury-Stories, Poems and Illustrations Celebrating the Author and his World (Alida Becker)


Languages of Tolkien's Middle-earth (Ruth S. Noel)



Languages, Myths and History-An Introduction to the Linguistic and Literary Background of J. R. R. Tolkien's Fiction (Elizabeth Solopova)

25 de out. de 2010

Jane Austen não sabia escrever? Uma notícia chocante (ou não)

Já comentei aqui que sigo o Jane Austen Sociedade do Brasil, da Adriana. Então hoje, enquanto apagava e lia meus emails, vi a notícia da newsletter do site: Jane Austen não sabia escrever?
O que significava isso? Fui direto no post e a história é a seguinte:
Saiu na mídia mundial e brasileira a notícia de que Jane Austen era péssima em ortografia. A Adriana até disponibilizou os links de alguns sites:
Escritora Jane Austen era péssima em ortografia", diz especialista de Oxford
Jane Austen era péssima em ortografia
Escritora Jane Austen era péssima em ortografia

Essa notícia diz basicamente que, segundo Kathryn Sutherland, professora da Universidade de Oxford, a escritora desconhecia as regras gramaticais e ortográficas e que por isso suas obras eram reescritas por um revisor. Para afirmar isso, a notícia cita a pesquisa realizada por Kathryn (baseada no estudo de alguns manuscritos não publicados).

O fato é que a notícia divulgada internacionalmente desqualifica tanto Austen quanto o estudo de Kathryn. Não é por menos que o comentário da Adriana pareça agressivo. Vic Sanborn também se irritou. Estão certas, as duas.
Todo mundo sabe que a mídia informa mas também difama. Não vejo motivo pra causar tanta "sensação" essa notícia. Coisa de quem não tem o que fazer, realmente! Deixem Jane Austen e suas obras em paz! Parem de difamar autores de trabalhos acadêmicos por aí e se ocupem de notícias verídicas, e quando se dispuserem a falar de algum assunto que envolva mais de 50 anos anteriores, jornalistas, façam uma pesquisa que preste ao invés de sair espalhando qualquer coisa!

2 de out. de 2010

A unlikely heroine: Jane Austen’s Emma (Costume Chronicles) IV

Publicado no Costume Chronicles, vol. 2, 2010.
A melhor análise da nova adaptação de Emma que eu já li.

Published in Costume Chronicles, vol. 2, 2010.
The best review of the new adaptation of Emma that I have ever read.

Uma heroína improvável: Emma de Jane Austen (A unlikely heroine: Jane Austen’s Emma)
Autora (Author): Hannah Kingsley

Emma Woodhouse é uma heroína improvável. Mesmo a especulativa Jane Austen sentiu que sua personagem não seria muito apreciada pelos outros. No entanto, ela deve ter visto o valor de Emma, e o resultado de sua escrita produziu a querida novela de mesmo nome. Desde então, o livro foi transformado em mais de uma adaptação para o cinema com uma variedade de membros do elenco interessante e estilos diferentes de narrativa visual.
O que faz de Emma Woodhouse uma heroína improvável é que o livro Emma é diferente de muitas novelas de época de Jane Austen. Era comum durante os séculos XVIII e XIX que os livros retratassem heroínas como tendo um caráter de quase perfeita moral, mas Jane Austen nos apresenta aquele que é flagrantemente imperfeito. Há aqueles que estão divididos sobre se deve ou não gostar da ficcional Emma Woodhouse, como Jane Austen havia antecipado, mas apesar da forma como a autora pensou que o público pudesse ver Emma, Miss Emma Woodhouse ganhou muitos fãs e é conhecido como uma fantástica heroína literária escrita.
Aqueles familiarizados com o cânone literário de Jane Austen podem saber que seu romance A Abadia de Northanger zomba do conceito de romance gótico. Emma está de acordo com esta tendência de comédia e satiriza a idéia do que significa ser uma heroína. Uma razão pela qual o livro foi bem-sucedido satirizando heroínas é porque é assim que Emma se assemelha a nós mesmos, inclusive quando estamos no nosso pior. Jane Austen mostra que é possível resgatar alguém que mancha sua própria reputação. Nós podemos desejar que isso seja verdade de nós mesmos, e o realismo humorístico que encontramos em Emma nos dá esperança para o nosso próprio mundo, e para o que às vezes podem parecer imperfeições irreparáveis.
No clássico de Jane Austen, a autora enfatiza ao invés de disfarçar nossas faltas, e consegue retratar o lado humano de seus personagens. Este tema brilha fortemente na adaptação da BBC de 2009, que assume a forma de uma peça de quatro partes e 240 minutos de série de televisão. Ao contrário de outras versões, esta mostra os disparates da heroína, assim como sua forte, deliciosa capacidade enquanto personagem. Mais importante, ela traz a inteligência e bom humor encontrados no livro original de Jane Austen com um impulso de energia nova.
O novo filme é bonito de olhar. As cores são vibrantes, os figurinos e iluminação espetaculares, e refletem a personalidade alegre de Emma. O elenco também é bem escolhido. Romola Garai faz talvez a Emma mais convincente ainda, e Johnny Lee Miller confortável e espetacularmente preenche o papel de Mr. Knightley. O foco do filme não se torna muito as imperfeições relatáveis desconfortáveis de Emma e seus erros ridículos, nem o orgulho de Mr. Knightley, mas a comédia da vida de Emma e da situação em uma escala maior. O filme passa muito tempo olhando para a maneira que as interações de amizade entre Emma e Mr. Knightley moldam sua amizade, e como o riso é central para o relacionamento dos dois personagens. Frequentemente Emma e Knightley usam humor para chegar a um acordo nos conflitos de personalidade, bem como as suas perspectivas de mundo e das pessoas nele. Suas diferenças, influenciadas por suas origens, os anos de idade, a expectativa de vida e os papéis sociais podem causar conflitos, mas são complementares; e enquanto Emma e Mr. Knightley podem argumentar há sempre uma fundação sólida de camaradagem real na base de sua amizade. Sua cálida amizade é bem desenvolvida nessa adaptação.
Algumas das linhas do livro foram reescritas para um melhor aproveitamento da série. Os diálogos fluem com facilidade e ajudam a preencher os personagens.
Mais que um amigo, Mr. Knightley é um obstáculo necessário e divertido pra evitar que Emma fique totalmente entregue a sua própria sorte. O dom natural de Emma para a auto-humilhação através de sua correspondência com excesso de zelo, pressupostos defeituosos e completa cegueira são cuidadosamente equilibrados pela crítica fria de Mr. Knightley a educação de Emma na ausência uma forte figura parental.
Emma Woodhouse é uma das personagens mais livres de Jane Austen, sem qualquer figura familiar autoritária e sem ninguém para vigiá-la verdadeiramente, com exceção do seu pai passivo e hipocondríaco. Isto permite a Emma ser independente e capaz de agir da forma que quiser sem o mínimo de reprovação, exceto Mr. Knightley e suas críticas. O leve desencorajamento de Mr. Knightley do freqüente comportamento excêntrico de Emma serve tanto para protegê-la quanto para moldá-la em uma jovem mulher confiante e bem sucedida.
Emma e Mr. Knightley não são exemplos exclusivos de personagens com qualidades humorísticas nem no romance nem nesta adaptação em particular. As atenções obsequiosas de Mr. Elton oferecem alívio cômico e a bajulação de Frank Churchill fala claramente ao orgulho de Emma. Outros personagens como Miss Bates (uma fonte de tagarelice sem fim) e o tímido de temperamento Mr. Woodhouse contribuem para esta retratação da sociedade do século XIX através das lentes do ridículo. Esta adaptação vai superar as expectativas de muitas pessoas e faz um trabalho maravilhoso em que retrata a história de Emma como uma comédia leve e divertida cheia de familiares e amigos divertidos que chamam a atenção para nossas falhas e zombam de nosso orgulho. Para citar um amigo, Emma confunde um grande momento, mas nós a amamos do mesmo jeito.

Desafio Literário - Outubro: Dewey: um gato entre livros (Vicki Myron e Bret Witter)


Tema: Lição de vida

Mês: Outubro

Título: Dewey: um gato entre livros

Autor(a): Vicki Myron e Bret Witter

Editora: Globo

Nº de páginas: 266

O livro é sobre...
A rotina da pacata cidade de Spencer, Yowa, Estados Unidos, se transforma após Dewey, um gato, ser encontrado na Biblioteca Pública. A diretora da Biblioteca, que achou o gatinho na caixa de devolução, resolve contar a história e lança o livro, Dewey, Um Gato entre Livros. O livro escrito por Vicki Myron, com colaboração de Bret Witte é a história real de um gato que fez da biblioteca - e da cidade de Spencer- sua casa e de seus habitantes, os melhores amigos. Quando foi encontrado, Dewey, já dava sinais de sua gratidão para com aqueles que o acolheram. Mesmo com as quatro patas feridas - pelo frio, o que lhe causou seqüelas - o gato olhou cada pessoa nos olhos, ronronou e acariciou as mãos. "Era como se ele quisesse agradecer pessoalmente a todos que conhecia por salva-lhe a vida" , diz a autora e diretora da Biblioteca Pública de Spencer, no livro.A cada dia, Dewey foi sendo apresentado aos freqüentadores da Biblioteca. Até que uma matéria na primeira página do principal jornal da cidade, de 10 mil habitantes, sob o título: "Perfeito acréscimo ronronante à Biblioteca de Spencer", gerou polêmica entre a população local. Houve quem dissesse que a presença do gato era prejudicial à saúde e outros comemoraram com grande exaltação, como as crianças e os amantes de gato. Mas, com o tempo todos se renderam ao charme e carisma de Dewey. Até o menino alérgico, que preocupava a mãe, voltou e com ela: enquanto ele filmava o gato, a mãe o fotografava. Desfilando entre as prateleiras, Dewey se tornou uma celebridade e conquistou o carinho da população de Spencer. Todos têm certeza de que Dewey ama todos do seu convívio.Senhores só liam jornal quando Dewey estava sentado no colo, crianças só liam livros quando o gato estava próximo delas e, assim, a Biblioteca Pública de Spencer se tornou o ponto de encontro dos moradores. Todos queriam fazer doações para os cuidados com o gato e até o Conselho Municipal se encantou com o charme de Dewey.Segundo a autora Dewey revolucionou a vida de todos os moradores e também o progresso da cidade. " Em 1988, quando o Dewey chegou, era inverno e parecia que a nossa cidade estava triste. Mas,Mas, com o passar do tempo percebemos que a cidade se encheu de alegria e que Dewey inspirou até o progresso da cidade".

Eu escolhi este livro porque...
Foi o primeiro que vi quando procurava livros sobre o tema. Já tinha visto o filme Marley e eu, e não queria ler o livro porque já sabia qual era o fim da história. também acho que não exista outro ser criado por Deus que possa dar lições de vida tão perfeitamente como os animais. Tão irracionais, são os mais próximos de Deus.

A leitura foi...
Ótima, triste, comovente, tudo junto. Engraçado eu ler justamente esse livro, a mamãe tem 10 gatos viralatas que foram abandonados em casa ou que ela ou eu achamos na rua e levamos pra casa pra cuidar. É engraçado, porque nosso pensamento sempre era levar pra casa, cuidar e dar pra adotar. Mas com o passar do tempo, sem ninguém interessado e nós mesmas já nos apegando ao bichinho (muitas vezes aparecia quem queria, mas a mamãe não quis dar porque ainda estava tratando dele e achava que a pessoa não ia continuar com os cuidados. Nisso, os dois cachorrinhos viralatas estão em casa há 4 nos), eles acabam ficando.
Essa semana morreu um dos cachorros mais velhos da mamãe. Os bichos dela sempre morrem de cancêr, não entendo isso. E sou eu que sempre ajudo mais a mamãe a cuidar deles doentes, vou dar água e comida, vou ver porque estão chorando, carrego eles pra fora do canil quando eles estão sem forças... Chorar lendo o livro foi mais um choro porque esse cachorro dela, o Sultão, teve que ser levado às pressas e o veterinário achou melhor colocá-lo pra dormir. Eu sabia que uma hora ia acontecer, mas esperava estar em casa pra me despedir. Qual não foi minha surpresa quando na terça agora liguei pra mamãe e ela me disse que o procedimento já tinha sido feito. E eu nem tinha visto ele e falado com ele pela última vez. É horrível essa sensação. Eu queria ter estado em casa.
A gente se apega muito. Nem quero pensar quando o gato mais velho dela, Ébano (tem esse nome porque ele é todo preto, só tem uma pinta branca no pescoço, lindo), começar a envelhecer.. Na verdade, ele já tem oito anos (como o tempo passa rápido!), Dewey viveu 19 anos... Detesto essa contagem. Dewey foi um gatinho especial pra todos que o conheceram, assim como são os da mamãe pra ela. Sou bibliotecária (quase formada) então adorei que o bicho de estimação da biblioteca tenha um nome tão significativo (Dewey é o sobrenome do homem que inventou o principal código de classificação utilizado pelos bibliotecários do mundo todo. É um sistema fácil de usar, depois que a gente pratica bem). Amei a história. Chorei horrores, pensando em Dewey e sua história comovente, no Sultão, nos gatos e cachorros da mamãe que já estão se arpoximando do fim da vida, e em como as pessoas são cruéis para seus bichos e para os bichos selvagens. Odeio qulaquer tipo de maldade contra animais. Adoro baleias e felinos selvagens (tenho o livro do leão Christian, já ouviram falar dele?). Meu sonho era entrar para o Greenpeace como oceanógrafa, mas não passei no vestibular. Um dia quem sabe. Nunca é tarde para fazer uma faculdade.

A nota que eu dou para o livro:
5 (Ótimo)