As I promised, here it is the first translate article published in Costume Chronicles, Vol.6, 2010 - Jane Austen Special 1.
A modernização de Jane Austen (The modernization of Jane Austen)
Autora (Author): Katie Slawson
Adaptação, algo com que o qual todos os grandes leitores e amantes do cinema já devem ter se deparado em algum momento. Cedo ou tarde, autores considerados pela sociedade como sucessos (ou pelo menos suficientemente interessantes) terão uma de suas obras adaptadas para outro meio. Na era vitoriana, obras literárias populares, tais como Jane Eyre de Charlotte Bronte e Drácula de Bram Stoker foram modificadas e apresentadas como peças de teatro. Uma vez que muitas cenas eram claramente impossíveis de serem realizadas, estas peças tomaram lugar em “salas” um pouco diferentes, preenchidas com o material original adaptado de acordo. Não há nenhuma surpresa, então, que com o advento da imagem em movimento no final do século XIX e a ascensão de Hollywood no início do século XX, os estúdios rapidamente mudassem para produzir adaptações de clássicos muito amados. Jane Austen é uma romancista tal que teve todos os seis trabalhos publicados adaptados em um grande filme ou mini-série.
A fim de compreender plenamente essas novas versões de romances clássicos como filmes, os espectadores também devem estar cientes que a adaptação não significa apenas a mudança literal necessária para transformar a palavra escrita no meio visual de um filme. Isso também significa que o trabalho em si poderia ser moldado e modificado a fim de se adaptar às condições atuais e pontos de vista da época, sejam elas sociais, políticas, éticas ou ateístas. Essencialmente, os romances não são apenas alterados a fim de fazer a transição entre página e tela, eles também são alterados para refletir melhor a cultura moderna e sensibilidades do momento. Sim, é verdade que existem adaptações de romances de Austen, como Clueless e O Diário de Bridget Jones, que são remakes literalmente modernos, sendo suas sugestões de Emma e Orgulho e Preconceito, respectivamente, mas pode-se dizer que mesmo as adaptações destinadas ao público durante o período de Austen são modernziadas de várias maneiras.
Muitos espectadores não totalmente em sintonia com o período de tempo específico que estão observando na tela podem não perceber que muitos elementos do filme em si, das roupas, opções de cores, cabelo e maquiagem até o diálogo e até mesmo uma ênfase em uma parte do roteiro sobre outro são todas escolhas feitas pelo escritor, diretor, produtor, figurinista e pela equipe de produção para ajudar a aclimatar o espectador moderno e aceitar o que eles estão vendo na tela. Às vezes, essas escolhas são feitas propositadamente, enquanto outras mudanças são feitas inconscientemente. Mas as adaptações de Jane Austen são financiáveis e pode contar que trazem uma audiência significativa. Pessoas simplesmente apresentadas a Austen podem sair do cinema com a impressão de que o que elas viram foi uma representação fiel do romance e do período de tempo em que ocorreu, quando nenhuma das numerosas adaptações podem ser consideradas totalmente fiéis ao trabalho de Austen.
Hollywood deve dar graças quando se trata de adaptações dos romances de Jane Austen. Afinal, alguns dos seus trabalhos tem muito pouco diálogo, além dos pensamentos internos dos protagonistas e, portanto, um script para mover a história deve ser elaborado ou ajustado a fim de continuar o enredo. Em outros momentos, faz sentido omitir um personagem ou combinar dois personagens devido ao tempo e funcionalidade. Certamente, janeites em todos os lugares podem gritar interiormente e protestar, mas no final do dia nenhuma adaptação de um romance pode ser descrita com precisão na tela, não só devido a tempo e razões orçamentais, mas também porque duas pessoas não tem a mesma visão do que um romance deve ser. É aí que reside o verdadeiro problema com as adaptações porque, enquanto não há uma visão do que Austen deve ser, há coisas muito reais que os filmes de Jane Austen não devem ser.
Ao longo dos anos, Hollywood tem tentado moldar sua visão do que Jane Austen escreveu com base em sua própria mentalidade ou sobre o que iria vender ingressos para o cinema. Uma pessoa que viu a primeira produção de cinema de Orgulho e Preconceito, em 1940, estrelada por Greer Garson e Laurence Olivier, viu um filme especificamente adaptado aos ideais do dia. Da mesma forma, alguém que viu a versão de 2005 com Keira Knightley e Matthew Macfadyen viu um filme que se adequava a perspectiva geral do espectador moderno e sua opinião sobre Jane Austen. Enquanto o slogan de produção de 1940 propagava: “Five grgeous beauties on a mad-cap manhunt!”, a tagline de 2005 dizia “Experience the greatest love story of all time.” Para o observador casual, isso pode passar completamente despercebido e sem contestação, no entanto, a verdadeira Janeite sabe que Austen nem escreveu uma comédia screwball, nem romance, ainda que a comédia screwball tenha sido muito popular nas bilheterias de 40, como foi Laurence Olivier, e em 2005, todos ansiavam por romance, drama e Keira Knightley. Assim, Jane Austen foi adaptada para atender às necessidades e aos desejos do público corrente. Espectadores nos anos 40 podem ter ficado com a impressão de que Jane Austen estava escrevendo comédia, enquanto os membros da audiência em 2005 ficaram com a impressão de que ela era uma grande romântica. A verdade, é claro, está em algum lugar entre ambos, pois Jane Austen escrevia sátira, algo que algumas adaptações parecem entender com menos sucesso do que outras.
O equívoco de que as histórias de Jane Austen são romances é um erro fácil de fazer para alguém não familiarizado com as obras. O início dos anos 90 viu um ressurgimento enorme das adaptações de Jane Austen e com eles a insistência de que a autora escrevia romance. Personagens em muitas das adaptações mais recentes são íntimos entre si de tal forma que nunca seriam na época de Austen, ainda que o telespectador médio de hoje seja considerado por Hollywood como demasiado impaciente para passar por um namoro longo, que envolva não muito mais do que falar sobre a família e o tempo e não termine em beijos apaixonados. Quando Hollywood obriga o espectador e dá o que ele quer ver, ela apenas promove a idéia de que Austen é romance. A versão de 1995 de Razão e Sensibilidade sofreu muito com este problema. Enquanto o maravilhoso roteiro de Emma Thompson consegue captar muito bem uma boa dose da sagacidade de Austen, muitas das cenas em que Marianne chora por Willoughby ou se joga na cama são feitas como cenas legitimamente dramáticas e não como tolas, a garota sofrendo por amor agindo dramaticamente. Enquanto no romance, o leitor pode simpatizar com o fato de que Marianne tenha sido levada e usada erroneamente por um homem, supostamente não devemos encorajar suas exibições dramáticas. Até o momento em que o filme começa a se aproximar do fim, Marianne é mostrada ao público andando na chuva e olhando, doente de amor, além das colinas para a casa de seu amado Willoughby enquanto recita poesia. É uma cena bonita, no entanto mais adequada a um romance gótico do que a uma sátira, algo que aqueles que leram Abadia de Northanger de Jane Austen podem achar altamente irônico.
Não só Austen foi adaptada para o gênero com o qual o público em geral, erroneamente, associa a ela, também a aparência geral de cada filme é atualizada de acordo com o que é o padrão de beleza de cada década. Estrelas populares são escaladas para o elenco porque se encaixam no molde do que o público vê como belo. Os penteados são quase sempre contemporâneos ou, pelo menos, uma adaptação moderna de um penteado de época, enquanto a maquiagem sempre reflete a época do público. As cinco garotas Bennet em Orgulho e Preconceito de 1940 são mostradas ostentando as sobrancelhas finas e arqueadas e o batom vermelho pesado da moda na década de 30, enquanto Orgulho e Preconceito de 1995 e Emma de 1996 favoreceram uma sobrancelha mais natural e maquiagem em tons de coral e rosa para seus personagens, com o Orgulho e Preconceito de 2005 retratando os lábios mais naturais e sombras em tons diferentes de marrom. Trajes também ecoam a época em que o filme foi feito, em vez do período em que a história supostamente acontece, mesmo que um figurinista se esforce para precisar o figurino do período. Normalmente, escolhas padrões de tecido e cores são feitas do que seriam usados em uma tentativa de ser mais amigável aos olhos de um espectador moderno, com a maioria das adaptações também optando por mostrar um pouco mais de decote do que seria considerado adequado. Joe Wright, diretor de Orgulho e Preconceito de 2005, percebeu que a linha de cintura império da época era desagradável e pediu a figurinista Jaqueline Durran para reduzi-las. A versão de 1940 foi tão longe que colocou o filme na década de 30 para que os vestidos fossem mais vibrantes e distantes na tela do que os vestidos simples em linha reta da Regência. No entanto, os vestidos ainda claramente representaram um 1930 ateísta em suas escolhas, com muitas listras diagonais e muitas das peças cortadas em viés, o que permitiu aos vestidos acentuar e se agarrar melhor as curvas da atriz. O período de 2007-2009 viu cinco de seis trabalhos publicados de Austen adaptados para a televisão, com cada um usando maquiagem e penteados modernos em sua maioria. Os trajes eram de época, mas quase todos foram reciclados de outros filmes, pois foram feitos durante o tempo em que a economia estava em apuros e os orçamentos dos filme estavam sendo bastante reduzidos.
No entanto, o visual dos personagens no filme não é a única coisa em perigo de ser modernizado pela nossa sociedade. Jane Austen também foi transformada para ser mais agradável aos olhos do espectador. Um retrato de Jane pintado por sua irmã Cassandra em 1810, quando Jane tinha 35 anos, foi refeito e refeito várias vezes ao longo dos anos. A versão vitoriana fez seus olhos muito maiores e suavizou suas feições, enquanto recentemente, quando a editora Wordsworth Editions Ltd. considerou Miss Austen muito pouco atraente para a capa de um livro sobre sua vida, criou uma versão do retrato que não somente acrescentou maquiagem, mas tirou a touca para revelar todos os seus cabelos, algo que a real Jane Austen raramente fez.
Outro elemento da adaptação que é completamente trazido para a época em que foi feita é o diálogo. Certas obras de Austen tem mais diálogo do que outras e o que existe é dito de uma forma que poderia sobressaltar um espectador moderno. Assim, o diálogo muitas vezes é modernizado, mas às vezes o roteirista vai tão longe que inventa conversas e palavras que os personagens nunca disseram e, em alguns casos, nunca teriam dito. Desde que os roteiros dos filmes devem apelar a um público amplo que não pode estar familiarizado com o modo de vida na Inglaterra regencial, muitos escritores sentem a necessidade de ter personagens comentando a situação atual. "Ele me oferece uma casa confortável e proteção. Eu tenho 27 anos de idade. Não tenho dinheiro nem perspectivas. Eu já sou um fardo para os meus pais", diz Charlotte Lucas na versão de 2005 de Orgulho e Preconceito, para o caso de que a audiência não esteja clara quanto às razões pelas quais Charlotte se casaria com alguém tão tolo quanto Mr.Collins. Em Razão e Sensiblidade de 1995, Elinor declara que "Casas passam de pai para filho, e não de pai para filha." A idéia de uma mulher casar por segurança, em vez de amor, e a dificuldade que envolve famílias bem colocadas seriam situações já totalmente compreendidas durante a época de Austen.
Infelizmente, os roteiristas não param de escrever expondo os motivos claramente, mas também vão bem longe ao inserir modernas convicções políticas ou até mesmo ao mudar um personagem completamente. Muitas das heroínas de Jane Austen no filme são retratadas com uma ligeira inclinação feminista, em falta nos originais. A versão de 1999 de Mansfield Park vai mais longe a ponto de transformar a personalidade da silenciosa e pensativa Fanny Price, em uma menina alta e barulhenta. Suas ações são mostradas sob uma ótica feminista, em vez de baseados na fé e na vontade de fazer a coisa certa. Uma breve referência à escravidão no livro torna-se um tema presente em todo o filme, com Fanny vendo um navio negreiro no oceano, enquanto Edmund a lembra que Mansfield Park existe inteiramente por causa das plantações em Antígua e, assim, devido ao comércio de escravos. Este é um exemplo de colocar crenças modernas em um filme e tentar fazer de Austen algo que ela não era. Enquanto não sabemos sua visão sobre o assunto da escravidão, sabemos que suas obras giram em torno do casamento, não da política, e além de uma referência ou duas aos soldados, raramente há qualquer alusão à política do dia.
Muitas vezes, os aspectos modernos menos visíveis das adaptações são os movimentos corporais dos personagens. A era regencial viu ambos os sexos agindo com civilidade e decoro na presença dos outros. Isto significava sentar-se em linha reta com as mãos colocadas uma sobre a outra no colo ou dar pequenos passos graciosos ao andar. Orgulho e Preconceito de 2005 tem as mais jovens das irmãs Bennet correndo e pulando em cada volta. Lizzy está propensa a colocar os pés sobre os móveis quando senta-se na presença de sua família, dobrando os joelhos sob o queixo, enquanto Mrs. Bennet pode ser vista desleixadamente em sua cadeira na mesa de jantar em mais de uma ocasião. Mansfield Park de 1999 tem Fanny e Edmund correndo pela casa gritando enquanto arremessam seus casacos um para o outro. Jim O'Hanlon, o diretor de Emma de 2009, realmente encorajou seus atores a usar uma linguagem corporal moderna, assim, Emma anda com pouca graça e é vista desleixadamente em sua escrivaninha.
Por todas estas razões, não pode haver dúvida de que qualquer adaptação do trabalho de Jane Austen poderia ser chamada de uma representação adequada da época. Certamente, algumas produções são louvadas sobre outras por serem mais precisas, mas isso simplesmente significa que as alterações feitas para o espectador eram mais sutis, e muitas vezes uma visualização feita anos depois pode ajudar a revelar o quão bem datada uma adaptação realmente foi.
O que Jane Austen acharia se visse algumas das suas obras adaptadas ao cinema? Ela ficaria horrorizada ao ver mulheres atuando com tão pouco decoro? Ela ficaria triste ao constatar que a sociedade tinha transformado suas obras satíricas em romances? Talvez ela ficasse desapontada ou talvez o cínico nela, que tão incisivamente riu dos costumes da sociedade, acharia divertida a forma como o público optou por assimilar aspectos de seu trabalho que prefere, ignorando outros. Não há nenhuma maneira de saber como Austen reagiria, mas não há dúvida de que o público continuará a afluir as adaptações de sua obra. A questão real é onde a sociedade moderna levará Jane Austen?
A fim de compreender plenamente essas novas versões de romances clássicos como filmes, os espectadores também devem estar cientes que a adaptação não significa apenas a mudança literal necessária para transformar a palavra escrita no meio visual de um filme. Isso também significa que o trabalho em si poderia ser moldado e modificado a fim de se adaptar às condições atuais e pontos de vista da época, sejam elas sociais, políticas, éticas ou ateístas. Essencialmente, os romances não são apenas alterados a fim de fazer a transição entre página e tela, eles também são alterados para refletir melhor a cultura moderna e sensibilidades do momento. Sim, é verdade que existem adaptações de romances de Austen, como Clueless e O Diário de Bridget Jones, que são remakes literalmente modernos, sendo suas sugestões de Emma e Orgulho e Preconceito, respectivamente, mas pode-se dizer que mesmo as adaptações destinadas ao público durante o período de Austen são modernziadas de várias maneiras.
Muitos espectadores não totalmente em sintonia com o período de tempo específico que estão observando na tela podem não perceber que muitos elementos do filme em si, das roupas, opções de cores, cabelo e maquiagem até o diálogo e até mesmo uma ênfase em uma parte do roteiro sobre outro são todas escolhas feitas pelo escritor, diretor, produtor, figurinista e pela equipe de produção para ajudar a aclimatar o espectador moderno e aceitar o que eles estão vendo na tela. Às vezes, essas escolhas são feitas propositadamente, enquanto outras mudanças são feitas inconscientemente. Mas as adaptações de Jane Austen são financiáveis e pode contar que trazem uma audiência significativa. Pessoas simplesmente apresentadas a Austen podem sair do cinema com a impressão de que o que elas viram foi uma representação fiel do romance e do período de tempo em que ocorreu, quando nenhuma das numerosas adaptações podem ser consideradas totalmente fiéis ao trabalho de Austen.
Hollywood deve dar graças quando se trata de adaptações dos romances de Jane Austen. Afinal, alguns dos seus trabalhos tem muito pouco diálogo, além dos pensamentos internos dos protagonistas e, portanto, um script para mover a história deve ser elaborado ou ajustado a fim de continuar o enredo. Em outros momentos, faz sentido omitir um personagem ou combinar dois personagens devido ao tempo e funcionalidade. Certamente, janeites em todos os lugares podem gritar interiormente e protestar, mas no final do dia nenhuma adaptação de um romance pode ser descrita com precisão na tela, não só devido a tempo e razões orçamentais, mas também porque duas pessoas não tem a mesma visão do que um romance deve ser. É aí que reside o verdadeiro problema com as adaptações porque, enquanto não há uma visão do que Austen deve ser, há coisas muito reais que os filmes de Jane Austen não devem ser.
Ao longo dos anos, Hollywood tem tentado moldar sua visão do que Jane Austen escreveu com base em sua própria mentalidade ou sobre o que iria vender ingressos para o cinema. Uma pessoa que viu a primeira produção de cinema de Orgulho e Preconceito, em 1940, estrelada por Greer Garson e Laurence Olivier, viu um filme especificamente adaptado aos ideais do dia. Da mesma forma, alguém que viu a versão de 2005 com Keira Knightley e Matthew Macfadyen viu um filme que se adequava a perspectiva geral do espectador moderno e sua opinião sobre Jane Austen. Enquanto o slogan de produção de 1940 propagava: “Five grgeous beauties on a mad-cap manhunt!”, a tagline de 2005 dizia “Experience the greatest love story of all time.” Para o observador casual, isso pode passar completamente despercebido e sem contestação, no entanto, a verdadeira Janeite sabe que Austen nem escreveu uma comédia screwball, nem romance, ainda que a comédia screwball tenha sido muito popular nas bilheterias de 40, como foi Laurence Olivier, e em 2005, todos ansiavam por romance, drama e Keira Knightley. Assim, Jane Austen foi adaptada para atender às necessidades e aos desejos do público corrente. Espectadores nos anos 40 podem ter ficado com a impressão de que Jane Austen estava escrevendo comédia, enquanto os membros da audiência em 2005 ficaram com a impressão de que ela era uma grande romântica. A verdade, é claro, está em algum lugar entre ambos, pois Jane Austen escrevia sátira, algo que algumas adaptações parecem entender com menos sucesso do que outras.
O equívoco de que as histórias de Jane Austen são romances é um erro fácil de fazer para alguém não familiarizado com as obras. O início dos anos 90 viu um ressurgimento enorme das adaptações de Jane Austen e com eles a insistência de que a autora escrevia romance. Personagens em muitas das adaptações mais recentes são íntimos entre si de tal forma que nunca seriam na época de Austen, ainda que o telespectador médio de hoje seja considerado por Hollywood como demasiado impaciente para passar por um namoro longo, que envolva não muito mais do que falar sobre a família e o tempo e não termine em beijos apaixonados. Quando Hollywood obriga o espectador e dá o que ele quer ver, ela apenas promove a idéia de que Austen é romance. A versão de 1995 de Razão e Sensibilidade sofreu muito com este problema. Enquanto o maravilhoso roteiro de Emma Thompson consegue captar muito bem uma boa dose da sagacidade de Austen, muitas das cenas em que Marianne chora por Willoughby ou se joga na cama são feitas como cenas legitimamente dramáticas e não como tolas, a garota sofrendo por amor agindo dramaticamente. Enquanto no romance, o leitor pode simpatizar com o fato de que Marianne tenha sido levada e usada erroneamente por um homem, supostamente não devemos encorajar suas exibições dramáticas. Até o momento em que o filme começa a se aproximar do fim, Marianne é mostrada ao público andando na chuva e olhando, doente de amor, além das colinas para a casa de seu amado Willoughby enquanto recita poesia. É uma cena bonita, no entanto mais adequada a um romance gótico do que a uma sátira, algo que aqueles que leram Abadia de Northanger de Jane Austen podem achar altamente irônico.
Não só Austen foi adaptada para o gênero com o qual o público em geral, erroneamente, associa a ela, também a aparência geral de cada filme é atualizada de acordo com o que é o padrão de beleza de cada década. Estrelas populares são escaladas para o elenco porque se encaixam no molde do que o público vê como belo. Os penteados são quase sempre contemporâneos ou, pelo menos, uma adaptação moderna de um penteado de época, enquanto a maquiagem sempre reflete a época do público. As cinco garotas Bennet em Orgulho e Preconceito de 1940 são mostradas ostentando as sobrancelhas finas e arqueadas e o batom vermelho pesado da moda na década de 30, enquanto Orgulho e Preconceito de 1995 e Emma de 1996 favoreceram uma sobrancelha mais natural e maquiagem em tons de coral e rosa para seus personagens, com o Orgulho e Preconceito de 2005 retratando os lábios mais naturais e sombras em tons diferentes de marrom. Trajes também ecoam a época em que o filme foi feito, em vez do período em que a história supostamente acontece, mesmo que um figurinista se esforce para precisar o figurino do período. Normalmente, escolhas padrões de tecido e cores são feitas do que seriam usados em uma tentativa de ser mais amigável aos olhos de um espectador moderno, com a maioria das adaptações também optando por mostrar um pouco mais de decote do que seria considerado adequado. Joe Wright, diretor de Orgulho e Preconceito de 2005, percebeu que a linha de cintura império da época era desagradável e pediu a figurinista Jaqueline Durran para reduzi-las. A versão de 1940 foi tão longe que colocou o filme na década de 30 para que os vestidos fossem mais vibrantes e distantes na tela do que os vestidos simples em linha reta da Regência. No entanto, os vestidos ainda claramente representaram um 1930 ateísta em suas escolhas, com muitas listras diagonais e muitas das peças cortadas em viés, o que permitiu aos vestidos acentuar e se agarrar melhor as curvas da atriz. O período de 2007-2009 viu cinco de seis trabalhos publicados de Austen adaptados para a televisão, com cada um usando maquiagem e penteados modernos em sua maioria. Os trajes eram de época, mas quase todos foram reciclados de outros filmes, pois foram feitos durante o tempo em que a economia estava em apuros e os orçamentos dos filme estavam sendo bastante reduzidos.
No entanto, o visual dos personagens no filme não é a única coisa em perigo de ser modernizado pela nossa sociedade. Jane Austen também foi transformada para ser mais agradável aos olhos do espectador. Um retrato de Jane pintado por sua irmã Cassandra em 1810, quando Jane tinha 35 anos, foi refeito e refeito várias vezes ao longo dos anos. A versão vitoriana fez seus olhos muito maiores e suavizou suas feições, enquanto recentemente, quando a editora Wordsworth Editions Ltd. considerou Miss Austen muito pouco atraente para a capa de um livro sobre sua vida, criou uma versão do retrato que não somente acrescentou maquiagem, mas tirou a touca para revelar todos os seus cabelos, algo que a real Jane Austen raramente fez.
Outro elemento da adaptação que é completamente trazido para a época em que foi feita é o diálogo. Certas obras de Austen tem mais diálogo do que outras e o que existe é dito de uma forma que poderia sobressaltar um espectador moderno. Assim, o diálogo muitas vezes é modernizado, mas às vezes o roteirista vai tão longe que inventa conversas e palavras que os personagens nunca disseram e, em alguns casos, nunca teriam dito. Desde que os roteiros dos filmes devem apelar a um público amplo que não pode estar familiarizado com o modo de vida na Inglaterra regencial, muitos escritores sentem a necessidade de ter personagens comentando a situação atual. "Ele me oferece uma casa confortável e proteção. Eu tenho 27 anos de idade. Não tenho dinheiro nem perspectivas. Eu já sou um fardo para os meus pais", diz Charlotte Lucas na versão de 2005 de Orgulho e Preconceito, para o caso de que a audiência não esteja clara quanto às razões pelas quais Charlotte se casaria com alguém tão tolo quanto Mr.Collins. Em Razão e Sensiblidade de 1995, Elinor declara que "Casas passam de pai para filho, e não de pai para filha." A idéia de uma mulher casar por segurança, em vez de amor, e a dificuldade que envolve famílias bem colocadas seriam situações já totalmente compreendidas durante a época de Austen.
Infelizmente, os roteiristas não param de escrever expondo os motivos claramente, mas também vão bem longe ao inserir modernas convicções políticas ou até mesmo ao mudar um personagem completamente. Muitas das heroínas de Jane Austen no filme são retratadas com uma ligeira inclinação feminista, em falta nos originais. A versão de 1999 de Mansfield Park vai mais longe a ponto de transformar a personalidade da silenciosa e pensativa Fanny Price, em uma menina alta e barulhenta. Suas ações são mostradas sob uma ótica feminista, em vez de baseados na fé e na vontade de fazer a coisa certa. Uma breve referência à escravidão no livro torna-se um tema presente em todo o filme, com Fanny vendo um navio negreiro no oceano, enquanto Edmund a lembra que Mansfield Park existe inteiramente por causa das plantações em Antígua e, assim, devido ao comércio de escravos. Este é um exemplo de colocar crenças modernas em um filme e tentar fazer de Austen algo que ela não era. Enquanto não sabemos sua visão sobre o assunto da escravidão, sabemos que suas obras giram em torno do casamento, não da política, e além de uma referência ou duas aos soldados, raramente há qualquer alusão à política do dia.
Muitas vezes, os aspectos modernos menos visíveis das adaptações são os movimentos corporais dos personagens. A era regencial viu ambos os sexos agindo com civilidade e decoro na presença dos outros. Isto significava sentar-se em linha reta com as mãos colocadas uma sobre a outra no colo ou dar pequenos passos graciosos ao andar. Orgulho e Preconceito de 2005 tem as mais jovens das irmãs Bennet correndo e pulando em cada volta. Lizzy está propensa a colocar os pés sobre os móveis quando senta-se na presença de sua família, dobrando os joelhos sob o queixo, enquanto Mrs. Bennet pode ser vista desleixadamente em sua cadeira na mesa de jantar em mais de uma ocasião. Mansfield Park de 1999 tem Fanny e Edmund correndo pela casa gritando enquanto arremessam seus casacos um para o outro. Jim O'Hanlon, o diretor de Emma de 2009, realmente encorajou seus atores a usar uma linguagem corporal moderna, assim, Emma anda com pouca graça e é vista desleixadamente em sua escrivaninha.
Por todas estas razões, não pode haver dúvida de que qualquer adaptação do trabalho de Jane Austen poderia ser chamada de uma representação adequada da época. Certamente, algumas produções são louvadas sobre outras por serem mais precisas, mas isso simplesmente significa que as alterações feitas para o espectador eram mais sutis, e muitas vezes uma visualização feita anos depois pode ajudar a revelar o quão bem datada uma adaptação realmente foi.
O que Jane Austen acharia se visse algumas das suas obras adaptadas ao cinema? Ela ficaria horrorizada ao ver mulheres atuando com tão pouco decoro? Ela ficaria triste ao constatar que a sociedade tinha transformado suas obras satíricas em romances? Talvez ela ficasse desapontada ou talvez o cínico nela, que tão incisivamente riu dos costumes da sociedade, acharia divertida a forma como o público optou por assimilar aspectos de seu trabalho que prefere, ignorando outros. Não há nenhuma maneira de saber como Austen reagiria, mas não há dúvida de que o público continuará a afluir as adaptações de sua obra. A questão real é onde a sociedade moderna levará Jane Austen?
Natallie, que post perfeito!! obrigada por compartilhar!!
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