12 de jan. de 2010

O mito dos Nibelungos

O mito dos nibelungos é um conjunto de lendas que fazem parte do imaginário mitológico germânico pré-cristão.Os nibelungos são uma raça mitológica de anões guardiões de tesouros. Essa lenda influenciou outras lendas, não só germânicas, mas nórdicas também . Sua origem refere-se à época das migrações dos povos bárbaros.
Com o lançamento dos filmes baseados na trilogia de Tolkien, muito se tem procurado saber sobre as mitologias que influenciaram o escritor. O mito dos nibelungos influenciou, muito antes de Tolkien, o mais famoso poema germânico “Das Nibelungelied” (traduzido erroneamente como “Canção dos Nibelungos”), e Richard Wagner e sua tetralogia operística, “Anel dos Nibelungos”.
Além do poema e da ópera, há também a versão nórdica da lenda, e cada texto apresenta diferenças entre si, principalmente referente à nomenclatura de alguns personagens.

“Das Nibelungelied” - “Canção dos Nibelungos”

A história do poema mistura os motivos heróicos germânicos pré-cristãos (a lenda do povo conhecido como nibelungo) com acontecimentos históricos dos séculos V e VI d.C, que se referem ao período em que o Império Romano foi invadido por tribos germânicas, dentre elas os burgúndios, que estabelecerem um reino na região do rio Reno. O poema se divide em duas partes.
Na primeira parte, Siegfried, príncipe de Xantem e filho de Sigmund e Sieglind, vai a Burgúndia com o intuito de se casar com a princesa Kriemhild. Em troca da mão dela, seu irmão o rei Gunther pede sua ajuda para vencer em batalha a rainha Brunhild, dona de força sobre-humana que desafiava todos os seus pretendentes. Para ajudá-lo, Siegfried utiliza a capa mágica que havia conquistado de Alberich. Gunther vence e leva sua rainha para casa. Brunhild fica intrigada com o fato do rei entregar a irmã em casamento a um vassalo, o que ela pensava que Siegfried era. O casamento duplo acontece, mas a rainha se recusa a consumar o casamento quando Gunther se nega a lhe explicar o porque do casamento da irmã com Siegfried. O rei então pede novamente ajuda ao herói e ele, no lugar de Gunther subjuga a rainha e tira dela seu cinturão e um anel. O rei consuma seu casamento ao mesmo tempo em que Brunhild perde sua força. Entrementes, Siegfried e Kriemhild viajam para Xantem e vivem lá por anos com um filho, Gunther, em homenagem ao tio. Brunhild convence o marido a convidá-los para Burgúndia e eles aceitam. No momento em que a rainha e a princesa vão entrar na catedral, inicia-se uma discussão sobre quem deveria entrar primeiro. Por ser tida como mulher de um vassalo, Kriemhild não aceita entrar depois da rainha e confessa perante todos que quem a conquistou foi Siegfried, seu marido. Posteriormente, ela se arrepende de ter humilhado a rainha, mas Hagen, fiel vassalo de Gunther, planeja assassinar o herói. Usando de uma falsa ameaça de guerra, todos partem e Siegfried é assassinado por Hagen (ele havia pedido que Kriemhild identificasse o ponto em que o sangue do dragão morto por Siegfried não havia tocado em sua pele, deixando-o vulnerável). Krienhild jura vingança pela morte do marido e resolve permanecer em Worms. Pressentindo isso, Hagen rouba e joga o tesouro do nibelungo pertencente a Siegfried no Reno.
Na segunda parte, os burgúndios passam a ser chamados de nibelungos, devido ao fato de terem tomado para si o tesouro. Anos depois, Kriemhild aceita o pedido de Etzel de casamento e ambos tem um filho. Usando o batizado como desculpa, ela convida seus parentes, mas Hagen desconfia. Lá, um dos convidados, o rei Dietrich Von Bern, aconselha a todos a ficarem de armas em postos. No salão, Kriemhild acusa a todos pela morte de Siegfried. Hagen admite as acusações. A briga começa fora do salão e ao saber disso, Hagen mata o filho de Etzel e Krienhild na frente de ambos. A luta segue. Kriemhild pede Hagen em troca da vida de seus parentes, que recusam. Todos os burgúndios morrem queimados, menos Gunther e Hagen. Kriemhild pergunta sobre o tesouro, mas ante a negativa de Hagen em responder, decapita Gunther e prepara-se para fazer o mesmo com Hagen, mas todos horrorizam-se e Hildebrand, cavaleiro a serviço de Dietrich, a mata. O poema termina com o lamento dos sobreviventes pela morte de tantos heróis.
É nessa segunda parte que ficam evidentes os acontecimentos históricos, quando Etzel ou Átila, rei dos hunos, destrói o reino da Burgúndia.

“Der Ring des Nibelungen” - “O Anel dos Nibelungos”

Esse é o nome do ciclo de óperas do alemão Richard Wagner. Composta entre 1848 e 1874, fazem parte dele “O Ouro do Reno”, “A Valquíria”, “Siegfried” e “Crepúsculo dos Deuses”. Essa ópera é uma adaptação de Wagner para a história que o poema conta, utilizando mais aspectos mitológicos. Nessa versão, os deuses tem um papel mais atuante no desenrolar dos acontecimentos. Apesar disso, Wagner demonstra que o desenrolar da história culminava com o momento histórico em que os deuses pagãos são deixados de lado frente o surgimento de uma nova crença, a cristã.

O Ouro do Reno
O anão Alberich, um nibelungo, renuncia ao amor e o amaldiçoa para poder se apossar do tesouro guardado pelas ninfas do Reno, pois aquele que forjasse um anel com esse tesouro se tornaria dono do mundo. Surge Wotan, que em troca da construção de seu palácio Valhala pelos gigantes, oferece a deusa do amor. Arrependido, pois ela guardava as maçãs da juventude, ele se apodera do tesouro e do Anel de Alberich, e do elmo mágico da invisibilidade de Tarn feito por Mime para pagar os gigantes. Nesse momento, Alberich amaldiçoa eternamente todo aquele que se apossar do seu anel. No momento do pagamento, os gigantes irmãos Fafner e Fasolt brigam pelo Anel e Fasolt é morto pelo irmão. Wotan e os deuses percebem o primeiro efeito da maldição do anão.

A Valquíria
Siegmund consegue encontrar uma espada que foi deixada por seu pai Wotan para ele encravada em uma árvore. A espada chama-se Notung. Ele também reencontra sua irmã gêmea e se casa com ela. Os dois fogem e Hunding, o marido de Sieglinde, caça os dois. Wotan decide retirar a proteção de Siegmund e manda para fazer isso sua filha valquíria, Brunhild. Ela se compadece dele e permanece a seu lado, mas Wotan furioso faz com que Siegmund seja morto ao quebrar sua espada, enquanto Brunhild foge com Sieglind e com os restos de Notung. Ela já espera Siegfried. Wotan castiga Brunhild pela desobediência, tirando sua imortalidade e colocando-a adormecida envolta em um anel de fogo, para ser acordada por um homem mortal. Siegfried nasce sob o peso da maldição de Wotan, na caverna de Mime, que ajuda sua mãe, mas ela não sobrevive ao parto.

Siegfried
Tem como pai adotivo o anão, que lhe conta sua história e lhe entrega os pedaços de Notung. Siegfried reforja a espada e sai a caça de Fafnir, agora na forma de um dragão. Após matá-lo, o sangue do dragão cai em sua mão e o queima. Ato reflexivo, ele leva a mão a boca e assim que prova o sangue do bicho, começa a entender a linguagem dos pássaros. Descobre os plano de Mime para matá-lo e se apossar do tesouro e do Anel. Ele o mata, toma para si o tesouro, o Anel, o elmo e encontra Wotan, que o desafia e tem sua lança quebrada. Nesse momento, percebe-se que os deuses estão no caminho para seu fim. Siegfried parte, então, para despertar Brunhild e ambos se unem.

Crepúsculo dos Deuses
As nornas recordam os acontecimentos de seu tempo. Recordam Wotan bebendo da fonte da sabedoria e pagando por isso com um olho; recordam quando o deus quebrou um ramo da arvora da vida Yggdrasil para fazer sua lança e enfraqueceu a árvore. É quando começa a ruína do mundo dos deuses. Conscientes disso, elas desaparecem entrando no seio da terra. Voltando a Siegfried, ele se torna detentor do conhecimento da ex-valquíria, recebe dela seus antigos elmo e armadura e seu cavalo. Ele entrega para ela seu Anel como prova de amor. São introduzidos na história o rei Gunther, Hagen e Gutrune, sua irmã. Hagen é meio irmão de ambos, filho da mesma mãe com Alberich. Conspira-se para casar Siegfried com Gutrune e Gunther com Brunhild. Ao beber uma poção, o herói esquece do seu amor por Brunhild e aceita ajudar Gunther a conseguir Brunhild, em troca de casar com Gutrune. Disfarçado de Gunther, ele conquista Brunhild e toma o anel dela. Mais tarde, ao perceber que o anel está com o Siegfried e não com Gunther, ela chama atenção para o fato. Siegfried jura que não desonrou Gunther e ela pede sua morte. Hagen arma tudo e descobre a parte do corpo de Siegfried vulnerável. Ele então bebe outra poção, relembra seu amor e confessa-o, e todos pensam que ele realmente traiu o rei. Dois corvos tentam alertá-lo para o perigo, mas ele não entende. Hagen o mata. Gutrune acusa ele e seu irmão, ambos se desentendem pelo Anel e Gunther é morto. No funeral de Siegfried, as ninfas recebem de volta o ouro e o Anel, para que o amor retorne ao mundo. A antiga valquíria conclama o deus Loki para que faça arder a pira montada nos portões do Valhala com a madeira de Yggdrasil. É o fim do mundo dos deuses.

A versão nórdica

A versão nórdica apresenta poucas diferenças frente ao enredo. O que muda é a nomenclatura de alguns personagens, como por exemplo Wotan se torna Odin, Siegfried se torna Sigurd, Gutrune se torna Kriemild, para citar alguns.

Pelo pouco que foi apresentado, percebe-se que conhecer as variedades de interpretações do mito dos nibelungos nos leva a compreender melhor o mundo de JRRTolkien e sua inspiração para a composição do tempo, dos personagens e criaturas que fazem parte desse lugar chamado Terra-Média.

REFERÊNCIAS:
FRANCHINI, A. S.; SEGANFREDO, Carmen. As melhores histórias da mitologia nórdica. Porto Alegre: Atres e Ofícios, 2006.
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Um comentário:

  1. Entendi, sempre fui fascinado pela mitologia Tolkieniana e até então vivia me perguntando se as inspirações do professor, não estavam sendo confundidas com uma cópia do Anel dos Nibelungos, digo isso por amor a sua obra pois eu odiaria ver que a história que mais me encantou até hoje, fosse apenas uma mera cópia de outra ainda mais antiga. Percebo agora que apesar dos pesares, as duas são bem distintas uma da outra, obrigado pela luz neste momento tão escuro. Se é que me permite a sugestão, você poderia falar também a respeito das inspirações para com A Saga dos Volsungos que pelo que ouvi dizer também possuem algumas semelhanças com as obras do Tolkein, abraços e até a próxima.

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